" Leve é o Corpo que se solta, Livre é a Alma que se entrega ao Amor.... Segue O que se ergue no Horizonte!"

- Grande Mãe, recebida por Ísis de Sírius

22 dezembro, 2012

A Rainha Boudicca



"Boudicca era alta, terrível de olhar e abençoada com uma voz poderosa. Uma cascata de cabelos vermelhos alcançava seus joelhos; usava um colar dourado composto de ornamentos, uma veste multi-colorida e sobre esta um casaco grosso preso por um broche. Carregava uma lança comprida para assustar todos os que deitassem-lhe os olhos."...(Dião Cássio em "História Romana").

Boudicca era a rainha da tribo celta Iceni, que habitava a Grã-Bretanha por ocasião da conquista romana.

Entretanto, Prasutagus, seu marido, é quem conduzia o povo. Ele comprometeu sua posição política, quando realizou inúmeros acordos com os romanos, inclusive entregando parte de seus domínios, com a esperança de proteger seu título e sua família.

Mas, o rei Prasutagus, acabou sendo abatido pelo invasor e a rainha Boudicca, juntamente com suas filhas, foram estupradas e humilhadas pelos romanos. Os legionários saquearam todo o reino e realizaram uma operação de ataque contra a ilha de Mona, hoje conhecida como Anglessey, onde se encontrava um dos mais importantes centros de culto dedicado a Deusa Andraste. Essa iniciativa foi encerrada com a degola de diversos celtas, sendo que, os druidas, cuja a doutrina sempre foi incompreensível para o racionalismo latino, foram os primeiros a morrer, seguindo a escravização dos demais e a aniquilação dos bosques sagrados. Tudo isso, vai além da simples humilhação militar. Para uma cultura que tem a religião em tão alta estima, tais atos são autênticas profanações, um golpe certeiro na coluna vertebral de sua organização social. É possível que os generais romanos não se deram conta do que estava acontecendo, pois para eles, os deuses não passavam de um entretenimento pessoal, quase um luxo reservado aos acomodados patrícios de Roma ou para contentar escravos que não tinham mais consolo.

Com relação aos druidas, consideravam-nos chefes de rebeliões disfarçados de sacerdotes. Acreditavam que, destruindo seu centro de reunião, seria mais fácil pacificar a ilha inteira. Mas os druidas eram os únicos homens preparados para ensinar, perpetuar e aplicar de forma adequada a religião, algo que dava sentido a existência celta. Tentar extirpar o druidismo de sua raiz era condenar todos os celtas a algo pior do que a morte.

A notícia da destruição do centro do culto da Deusa Andraste associado ao ocorrido com a rainha Boudicca e suas filhas, resultou em uma reação bastante selvagem entre os bretões. Uma grande rebelião foi organizada e à frente da mesma foi colocada ao comando da rainha. As mulheres celtas, não eram somente semelhantes aos homens em estatura, mas equivalentes a eles, no que diz respeito à coragem, técnicas de guerra e o desejo de vingança.

Boudicca, então, com um exército de 100.000 homens impôs pesados revezes às legiões romanas. Colchester (Camulodunum), Londres (Londinium) e Verlamium, conheceram os efeitos da reputação guerreira da rainha e o tratamento que ela dava a seus inimigos. Suas ações bélicas foram consideradas como as mais sangrentas realizadas pelos celtas. Várias cidades romanas ficaram arrasadas e centenas de mulheres foram decapitadas em sacrifício à Deusa Andraste, a quem eram dedicadas todas as suas vitórias.

Os bretões devolveram "olho por olho" cada ato de crueldade que sofreram, destruíram todos os fortes romanos que encontravam pela frente e festejavam sobre as suas ruínas.

Contava-se que Boudicca libertava uma lebre como parte de um rito à Andraste, antes de iniciar uma batalha. Se os romanos matassem o animalzinho, despertariam a fúria da Deusa, que lutaria a seu lado, levando-a à derradeira vitória.

Entretanto, em uma última batalha, um exército romano chefiado por Suetônio Paulino,melhor equipado e organizado, acabou derrotando-a. A vitória romana converteu-se em carnificina.

Há informes contraditórios da morte de Boudicca. Há quem diga que ela morreu na batalha, mas muitas outros estudiosos afirmam que ela envenenou-se, evocando, em seu último suspiro, a Deusa Andraste, a "Invencível".

A morte da Rainha vermelha, entretanto, não pacificou os bretões, só serviu mesmo para estabilizar a situação. Os celtas compreenderam que seria quase impossível expulsar os romanos de seu território, mas esses também entenderam que seria totalmente impossível se impor aos celtas. Isso desembocou em uma frágil paz que nenhum dos dois grupos rompeu antes da coroação de Vespasiano como imperador de Roma.

Há um grande mistério em torno do nome de Boudicca, pois em galês ("budd" em galês), ele significa "A Vitória" e é bem provável que esta rainha ocupou uma posição dupla como líder tribal e como uma Druida. Esse nome, portanto, talvez seja um título religioso e não um nome pessoal, significando o ponto de vista de seus seguidores, que a personalizavam como uma Deusa.
Isso ajudaria explicar o fanatismo de uma variedade de tribos em seguir a liderança de uma mulher na batalha.

Boudicca era uma guerreira enfurecida, sendo descrita como uma mulher alta, de compleição física forte, dotada de uma vasta cabeleira vermelha e capaz de mudar seu rosto com gestos e contorções típicos de qualquer combatente celta. Todos os povos bretões levantaram suas armas para segui-la."

Texto de Rosane Volpatto

06 dezembro, 2012





O reflexo do Sol espelhado na água fresca da lagoa, suaviza e ilumina ainda mais o contorno dos seixos redondos e pretos no fundo, criando um padrão brilhante que interrompo com os pés.
A olhar para este padrão, a minha mente divaga... o único elo que me prende á realidade é o cansaço extremo de tanto correr, que me leva a mergulhar os pés na lagoa e me alivia a dor.
O peso da criança que carrego ás costas, embrulhada num pano, reconforta-me no meio da situação emergente em que me encontro.
A respiração ofegante e os soluços da rapariga mais nova ao meu lado, leva-me a olhá-la preocupada e alerta-me para o perigo que espreita por trás da vegetação cerrada da selva, em volta da lagoa.
Conheço uma mulher velha que me salvou na noite em que dei á Luz. Ela é a única que pode esconder a minha Irmã... mantê-la a salvo, nas Ilhas mais afastadas da nossa. Esta velha é a minha única esperança, para que a minha irmã não tenha o mesmo fim que as virgens do solísticio.
O único pagamento que me exigiu, foi a minha vida em troca... uma vida ao serviço da Mãe Terra. A velha não tem ninguém a quem deixar o seu legado e precisa de uma mulher jovem e forte a quem ensinar e passar o conhecimento. Quando eu nasci, ela já era velha... muito velha... e sempre me olhou, sempre me avaliou... sempre me sondou...

Os olhos grandes e amendoados da minha irmã, olhavam-me aterrorizados. Os caracóis escuros que lhe desciam em cascata pelas costas, cobrindo-a até á cintura, colavam-se á sua pele suada e dourada. A sua beleza desponta mais a minha dor e o medo de perdê-la desperta-me para a realidade.
Olho de novo para o fundo da lagoa... remexo os seixos com os pés. Levo as mãos em concha cheias de água fresca e lavo a cara e mato a sede.
A criança mexe-se nas minhas costas, inquietado solta uns arrulhos de sono e sossega novamente. É bom que não acorde agora. Já falta pouco...
Consigo ouvir ao longe, os ecos das palavras iradas trazidas pelo vento, dos homens que nos perseguem. O pãnico invade-me de novo. Levanto-me de um salto e puxo a minha irmã pela mão. Abandonamos a lagoa numa corrida desenfreada.
Eu sei que o pai do meu filho está com aqueles que nos perseguem. Tenho pena que ele não compreenda o motivo, o amor que sinto pela minha irmã, que me levou a enfrentar os Anciões, a desrespeitar e a renegar as tradições do meu povo e dos deuses... abandonando a aldeia antes que a afogassem com as outras virgens na fonte sagrada, num ritual escuro e antigo.
Mas eu não confio nos anciões... nem acredito nos nossos deuses que exigem sangue virgem a cada quatro anos...
Afasto as folhas gigantes  que me arranham a cara, os braços e as pernas na minha fuga desesperada. As minhas pernas dão-me sinais de que podem sucumbir a qualquer momento, as lágrimas correm enevoando a minha visão.
A minha irmã também chora exausta e com medo, chora alto e acorda o meu filho que agora berra com fome e com medo do nosso ritmo acelarado.
O pãnico invade-me e segundos depois a vegetação fica para trás, e sinto os meus pés pisarem a areia fria da praia. Está quase a anoitecer e temos que ser rápidas!
Ao fundo da praia, á beira mar... numa canoa minuscula a Anciã espera-nos com uma expressão de tranquilidade absoluta.
Descemos até ela aos tropeções. Não há tempo para cumprimentos nem saudações. Empurramos a canoa para o mar e saltamos para dentro dela. A velha e a minha irmã começam a remar, enquanto eu puxo o meu filho para a frente e o abraço contra o meu peito, acalmando-o.
Passamos a rebentação e sinto a canoa baloiçar violentamente sobre as ondas e ao longe vejo por fim os homens a chegarem á praia e a praguejarem na nossa direcção.
Chegaram tarde.
A Anciã ri alto, numa gargalhada... a minha irmã chora de alívio...  enquanto eu não tiro os olhos da praia, fitando os olhos de um rosto assombrado... do homem a quem roubei o filho, e que nunca mais verei nesta vida, ou em outra.

Mas não me arrependo de ter escolhido a Vida, em detrimento de uma tradição de morte.
Fecho os olhos, embriagada pelo baloiçar da canoa e rezo aos meus Pais, para no mundo onde estiverem, abençoarem e aprovarem o que fiz para salvar a minha Irmã.
Que os nossos antepassados nos protejam...

- Susana Duarte em Viagens da minha Alma