" Leve é o Corpo que se solta, Livre é a Alma que se entrega ao Amor.... Segue O que se ergue no Horizonte!"

- Grande Mãe, recebida por Ísis de Sírius

30 novembro, 2011

Memórias...


 
A minha árvore diz-me que respire.
Fecho os olhos e respiro… 1, 2, 3, 4.
Respiro, e os fragmentos desenrolam-se à minha frente. Respiro e as minhas mãos tentam alcançar o coração da minha árvore.
Tantos fragmentos, que mal consigo seguir a ordem.
Tantas recordações que o meu espírito havia já esquecido. Recordações do quanto Eu amo esta terra. De como a defendi outrora, e tantas vezes, até á morte.
Vivi, amei, lutei e morri por ela.
O meu ser fundiu-se há muito tempo com esta terra, e por ela vivo e respiro. Alimento-me dela!
Tantas saudades e tantas recordações em fracções de segundos.
Como anseio voltar a casa!
Às verdejantes planícies envoltas na Bruma. Ao abrigo da densa floresta, em que se me deitasse no chão, sentiria o pulsar da Terra, o bater do coração da Mãe, o Amor e o Colo da Deusa.
Como tudo mudou!
As lágrimas amargam.
Como pudemos esquecer, depois de tantos sacrifícios?
Como pudemos acabar assim?
Como pudemos nós fazer justamente o contrário, do que nascemos para fazer?
Agora, resta muito pouco dos locais sagrados. O que era verde, tornou-se cinzento. Onde as nossas crianças corriam livremente entre os veados, temos agora estradas. Estradas, cimento... betão até perder de vista.
O meu carvalho, de pele grossa e cinzenta tem raízes fundas, muito fundas. Percorrem e alcançam todas as direcções. E enquanto tento segui-las, as recordações são avassaladoras.
(...)
Dói tanto, que as lágrimas ficam presas na garganta.
Tantas, tantas recordações… do que éramos quando o nosso corpo era uno com o nosso espírito e vivia em sintonia com o espírito da Mãe Terra.
Sentíamos, respirávamos, vivíamos por Ela.
Honrávamo-la em cada gesto!
Nada tirávamos, sem a sua bênção.
Toda a forma de vida era preciosa. Cada insecto, cada flor, cada pedra tinha o seu lugar no mundo.
E agora tudo mudou.
O ventre da Terra… revolto! Destruído! Esventrado!
Todas as formas de vida, incluindo a nossa, morrem com a terra.
Como pudemos nós desrespeitar o nosso único equilíbrio?
Respiro…
Cada golfada de ar… uma recordação!
Recordações de existências, em que a minha vida e a minha morte faziam um verdadeiro sentido.
E agora? Para onde caminho?
Já não vejo a bruma, que envolvia outrora a minha floresta.
Já não vejo o círculo de pedra, sagrado, onde tantas vezes me deitava ao Sol…  cantando honras à minha Deusa.
Para onde foi tudo?
Para onde caminho agora?
Qual é o meu sentido aqui?
Quero voltar para casa! Anseio por correr na planície.
 Abro os olhos.
 Não vejo verde, não vejo árvores!
 Só a cidade e os prédios altos que não me deixam ver o sol, enquanto as lágrimas me aquecem a cara.
Respiro… não consigo!
Já não há ar para respirar!
(Susana Duarte, em Viagens da minha Alma)


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