A minha árvore diz-me que respire.
Fecho os olhos e respiro… 1, 2, 3, 4.
Respiro, e os fragmentos desenrolam-se à minha frente. Respiro e as minhas mãos tentam alcançar o coração da minha árvore.
Tantos fragmentos, que mal consigo seguir a ordem.
Tantas recordações! Tantas recordações que o meu espírito havia já esquecido. Recordações do quanto Eu amo esta terra. De como a defendi outrora, e tantas vezes, até á morte.
Vivi, amei, lutei e morri por ela.
O meu ser se fundiu há muito tempo com esta terra, e por ela vivo e respiro. Alimento-me dela!
Tantas saudades e tantas recordações em fracções de segundos.
Como anseio voltar a casa!
Às verdejantes planícies envoltas na Bruma. Ao abrigo da densa floresta, em que se me deitasse no chão, sentiria o pulsar da Terra, o bater do coração da Mãe, o Amor e o Colo da Deusa.
Como tudo mudou!
As lágrimas amargam.
Como pudemos esquecer, depois de tanto sacrifício, que muitos de nós fizemos para defender esta terra?
Como pudemos?
Respiro… Cada respiração custa!
Como pudemos acabar assim?
Como pudemos nós fazer justamente o contrário, do que nascemos para fazer?
Como pudemos nós, causar tanto dano a nós próprios?
Agora, resta muito pouco dos locais sagrados. O que era verde, tornou-se cinzento. Onde as nossas crianças corriam livremente entre os veados, temos agora estradas. Estradas, cimento até perder de vista.
Disseram-me para trabalhar a minha árvore… o meu carvalho, de pele grossa e cinzenta. As suas raízes são fundas, muito fundas. Percorrem e alcançam todas as direcções. E enquanto tento segui-las, as recordações são avassaladoras.
Respiro…
Ela disse-me para respirar.
Mas a cada golfada de ar, dói.
Dói tanto, que as lágrimas ficam presas na garganta.
Tantas, tantas recordações… do que éramos quando o nosso corpo era uno com o nosso espírito e vivia em sintonia com o espírito da Mãe Terra.
Sentíamos, respirávamos, vivíamos por Ela.
Honrávamo-la em cada gesto!
Nada tirávamos, sem a sua bênção.
Toda a forma de vida era preciosa. Cada insecto, cada flor, cada pedra tinha o seu lugar no mundo.
E agora tudo mudou.
O ventre da Terra… revolto! Destruído! Esventrado!
Todas as formas de vida, incluindo a nossa, morrem com a terra.
Como pudemos nós desrespeitar o nosso único equilíbrio?
Respiro… 1, 2, 3, 4. Como um Irmão me ensinou.
Mas dói!
Cada golfada de ar… uma recordação!
Recordações de existências, em que a minha vida e a minha morte faziam um verdadeiro sentido.
E agora? Para onde caminho?
Já não vejo a bruma, que envolvia outrora a minha floresta.
Já não vejo os círculos de pedra, sagrados, onde tantas vezes me deitava ao Sol… a cantar á minha Deusa.
Para onde foi tudo?
Para onde caminho agora?
Qual é o meu sentido aqui?
Quero voltar para casa! Anseio por correr na planície.
Respiro… 1, 2, 3, 4… dói!
Dói tanto!
Abro os olhos.
Não vejo verde, não vejo árvores!
Só a cidade e os prédios altos que não me deixam ver o sol, enquanto as lágrimas me aquecem a cara.
Respiro… não consigo!
Já não há ar para respirar!
Ísis de Sirius, em "Viagens da minha Alma"
16h06m, 25/03/2010
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